Por Cristiana de Almeida Fernandes

Nas IESs (Instituições de Ensino Superior), deveria ter uma disciplina dentro dos cursos chamada “Introdução à Incubação”. Pouca gente sabe, mas metodologicamente falando, dentro do processo criativo há uma fase intitulada de “incubação”, que se trata do distanciamento do problema, muito chamada também de “ócio criativo”, quando o designer gráfico, ao beber chope, jogar basquete ou namorar tem as suas brilhantes idéias. E por que não implantar e tornar curricular uma disciplina que vai trazer o informal para o ensino da criatividade?

Foi em um happy-hour que surgiu a idéia de trazer o Design para o interior do Rio. Estávamos alguns amigos, já professores, de várias áreas de atuação, conversando sobre os prazeres de lecionar. Quando eu falei que fazia parte de um projeto de agência experimental do curso de Comunicação e o quanto isso contribuía para a formação dos alunos, uma pessoa de cargo importante de um Centro Universitário do interior do Rio que estava no papo, disse: “Nossa, nós estamos precisando de um projeto como esse!”. Eu respondi: “Eu tenho!”. E a paquera começou, o namoro foi conseqüência e a designer que vos fala hoje, depois de 12 anos de profissão e um chope, está casada há alguns meses e com muitos filhos já na escola.

Quando o Design já é conseqüência, como nos grandes centros, nosso olhar e nosso repertório ficam mais críticos, ou seja, nós ficamos muito exigentes com a produção da imagem. Na maioria das vezes essa crítica está atrelada ao acabamento das peças proveniente de uma tecnologia de ponta. É comum andarmos pelas bancas de jornal do Rio e São Paulo e vermos vernizes UV, laminações, facas especiais, cores ressaltadas pelos papéis especiais, aplicados nas capas das revistas. Hoje, no grande centro, é comum contarmos com a relação custo x benefício entre a tiragem e a aplicação do acabamento pela própria exigência do mercado. Mas em uma cidade do interior, muitas vezes há brigas entre o designer gráfico e o responsável pelo bureau sobre conversão do arquivo em PSD para CDR, porque o ainda “RIP de fotolito não lê” o arquivo, e o operador não compreende que o padrão CMYK em PDF vai agilizar o serviço dele.

Quando o Design é colocado no processo exige diferencial competitivo onde quer que esteja.

A grade de um curso é criada a partir de algumas exigências que o próprio MEC faz, a partir de leis, de diretrizes criadas para que uma área tenha o seu lugar de regulamentação como Ensino Superior, onde o ENSINO faz parte de um tripé: ENSINO – PESQUISA – EXTENSÃO. Um curso, quando é criado, também tem que atender à região onde está localizado. Por exemplo, onde há um setor moveleiro forte, a criação um curso de design de produto com ênfase em móveis é super importante. É por isso que há tantas grades diferentes nos cursos de Design.

Essas leis e necessidades que, às vezes, fazem a carga horária diminuir, uma disciplina sumir, outra aparecer e um laboratório ser criado de um dia para o outro. Já pensou hoje, você estudante de design gráfico que só ilustra na tablet no Photoshop, estudar em uma faculdade que até hoje só possui um laboratório de análises gráficas que obriga você a usar tira-linhas e marcadores que você nem pode escanear?

Pois foi assim que eu e muitos de seus professores aprendemos design e o mercado nos fez aprender “na marra” que o fotolito foi substituído pelo Offset Digital, que dispensa matriz e faz 1.000.000 de cópias em duas horas.

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Cristiana possui mestrado em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005). É coordenadora do curso de Design do Centro Universitário Volta Redonda – UniFOA. Possui sete anos de experiência acadêmica em docência superior em Comunicação e Design. Atua há 11 anos no mercado como designer gráfica.

Fonte: DesignBrasil